sexta-feira, 9 de março de 2018

Taquicardia

Saímos de casa e a Tia Iara tinha uma ideia fixa: queria ir até Balneário Camboriú para conhecer o teleférico do Parque Unipraias.


Ele sai da Estação Barra Sul, à beira do mar, sobe 250m até a Estação Mata Atlântica e desce novamente até a Praia de Laranjeiras. A viagem de ida e volta custa 13 dólares por pessoa, mas como fazemos parte da famosa terceira idade, pagamos metade do valor. Cada cabine tem lugar para até seis pessoas, mas normalmente partem com quatro, dois casais: duas mulheres malucas e dois homens desesperados. Como eu sofro de vertigem, e a cabine do teleférico é quase toda transparente, minha amada esposa, preocupada com meu bem estar, colocou-me dentro daquela geringonça sem nem perguntar se eu queria ir.


Aquele troço já começa a andar a  muuuitos metros de altura! Me grudei numa estrutura de ferro que tem no meio e não larguei mais. Evitei gritar, poderia pegar mal. Sentia o suor escorrer pela costas. Na verdade eu estava catatônico, incapaz de me mover. Às vezes aquela coisa diminuía a velocidade (que já era muito lenta para o meu gosto!) até quase parar. Fazia barulhos estranhos (qualquer barulho era estranho!) e balançava levemente ao vento... Interrogado, eu confessaria o extermínio dos dinossauros!


Na Estação Mata Atlântica tem atrações para adultos e crianças - vários mirantes, uma floresta com duendes e fadas, um trenzinho que circula a dois metros de altura pelo local e um trenó de montanha, para quem gosta de um brinquedo mais radical. Mas para quem não tem amor à vida, e achou o teleférico sem graça, há a opção de descer lá de cima até a Praia das Laranjeiras num rapel maluco, de 750 metros de comprimento e 240 metros de altura. Fiquei observando alguns que chegaram lá embaixo: olhos esbugalhados, dificuldades de coordenação motora e fala desconexa, dizendo coisas ininteligíveis como "fodástico" e "do caráleo"... todos sequelados!


E o pior é saber que, depois de tudo isso, temos que voltar pelo mesmo caminho. Enfim: para quem consegue olhar, a vista é maravilhosa! O lugar, paradisíaco. A segurança, impecável. Os funcionários, perfeitos. O atendimento, irretocável. Os serviços oferecidos, irreparáveis. Nunca mais volto lá! 

quinta-feira, 8 de março de 2018

Viagem ao Fim da Ilha

Entre os locais que ainda não conhecíamos na Ilha de Florianópolis, um deles era a Costa da Lagoa, um lugar ermo, com acesso apenas por barco (já descrevi essa viagem em Rumo à Costa, já postado nesse blog). A curiosidade também recaía nas histórias sobre comidinhas deliciosas em lugares bucólicos. Então, lá fomos nós conhecer essas histórias!
Encontramos pessoas divertidas na viagem de barco, que nos recomendaram um restaurante no "Ponto 16", o Sabor da Costa.

Um lugar paradisíaco, sem sinal de internet, e que talvez fosse perfeito se não dispusesse de wi-fi! Atendido por pessoas bem humoradas, que fazem esforço para bem servir, ficamos muito à vontade, curtindo a paisagem, o clima agradável e uma cachacinha que - eles juram - é feita na casa. Com um cardápio meticulosamente montado, que não chega a trinta pratos, consegue atender ao gosto de todos os tipos de clientes. Nosso grupo foi servido com vários pratos, todos apresentados com simplicidade e cuidado esmerados e sabor muito correto.

Claro que não poderíamos nos furtar de conhecer nossa anfitriã e responsável pelo nosso almoço delicioso.
A Chef Mana (ela não revelou o nome...) era uma mulher de beleza singular, visivelmente aumentada pela sua simpatia, alegria e simplicidade, o que a tornava uma pessoa com um toque de indescritível sofisticação. Sua cozinha era bem cuidada, panelas brilhando, bancadas limpíssimas e uma organização algo surreal, embora perfeita para as atividades ali desenvolvidas. Carinhosa, educada e atenciosa, fez do nosso almoço um acontecimento!

Como se não bastasse, antes de deixarmos o local, um dos garçons nos brindou com singelos copinhos de cachacinha personalizados, um carinho sem explicação!

Mana, fica de olho nos barcos! Quando menos esperares, vamos atracar de novo no Sabor da Costa com uma galera para bagunçar (de novo) teu querido restaurante!

Imobilidade urbana

Rodovia de acesso à Florianópolis

Quando você viaja de férias, quer descansar, relaxar, sair do stress diário e ter uma experiência agradável. Se essa também é sua ideia, tire Florianópolis da sua lista de destinos. O trânsito da capital catarinense transformou-se num caos digno de mega metrópoles, apesar da sua bem vendida ideia de organização. A qualquer hora do dia, os carros se arrastam por estradas, ruas e avenidas de todos os portes, as pontes de acesso à ilha estão congestionadas (e deterioradas, com ferragens à mostra e pedaços de concreto se soltando de lajes, vigas e pilares). Os aplicativos de orientação informam velocidades médias de 10 a 12km por hora! As administrações de todos os níveis simplesmente esqueceram que a capital fica numa ilha paradisíaca, com quarenta e duas praias, que atrai milhares de veículos que se juntam aos residentes. Então, se você quer testar sua tolerância, paciência e prudência, a Ilha da Magia lhe espera! 
Ponte de acesso à capital catarinense

quarta-feira, 7 de março de 2018

Rumo à Costa

O dia amanheceu nublado, cinza, mas sem previsão de chuva. Abortamos o projeto de ir a Camboriú e passear no Unipraias, um completo turístico da cidade, que seria mais bonito em um dia claro. Resolvemos ir até a Lagoa da Conceição, no outro lado de Florianópolis, e de lá, de barco, visitarmos a Costa da Lagoa, uma vila de pescadores à beira da lagoa que tornou-se atração turística pela beleza de suas paisagens e, principalmente, pela sua gastronomia. A viagem até a lagoa é caótica, mas isso vai ser assunto de outro post. Ao chegarmos lá, compramos passagens para uma espécie de linha de transporte fluvial, chamada "Transporte Executivo" da Cooperativa dos Barqueiros Autônomos da Costa da Lagoa.




Por U$ 3,50 pode-se ir e voltar nos 13 "pontos" de embarque e e desembarque (propaganda nas costas da camiseta do "cobrador"), acessíveis somente por essa forma de transporte. São trapiches simples, feitos artesanalmente com materiais locais.

Os barcos saem de hora em hora nos dias de semana a cada meia hora os finais de semana, somente durante o dia. São barcos velhos, lentos, sem qualquer conforto e que causam certa apreensão quando navegam em dias de vento e água agitada na lagoa (o que, por acaso, foi o que aconteceu no dia do nosso passeio...).

A paisagem é muito bonita, e os usuários são um cadinho de origens: estrangeiros, brasileiros de diversos estados e, claro, muitos nativos. Famílias de pescadores, pessoas que foram à "cidade" resolver problemas e crianças que vão e voltam de escolas.


Dependendo das condições do tempo e do destino, a viagem pode demorar até uma hora. Não fomos até o último ponto, e viajamos por quarenta e cinco minutos. Descobrimos um pequeno paraíso, de gente simples, construções sóbrias e sem luxo, sem ostentação nem vaidade, mas onde não existe pobreza. Um belo exercício de desapego...




terça-feira, 6 de março de 2018

Retiro dos Padres



Na metade do século XIX, um navio inglês ficou avariado em uma praia paradisíaca do litoral catarinense. O fato atiçou a curiosidade dos moradores, que acorriam ao local para ver o navio e seus tripulantes, pois nunca haviam visto um inglês autêntico. A partir deste acontecimento, a praia ficou conhecida como Praia dos Ingleses. Em 1967, a praia foi adquirida pelos padres salesianos de Itajaí, que construíram uma casa de retiro espiritual, razão para o novo batismo da praia - Retiro dos Padres. Desde então, apenas os aventureiros chegavam até a praia, devido aos seu acesso precário. Com o tempo, o progresso se encarregou de pavimentar o caminho, e hoje o local é um refúgio a quem busca fugir da badalação de Bombinhas.
Chegamos achando que a beleza natural era o grande diferencial do local. Ao buscarmos algo para comer, fomos abordados por uma figura simpática, com sotaque maranhense (que - pecado mortal - não perguntamos o nome), fazendo as vezes de garçom, oferecendo um cardápio com opções diferentes do convencional para o local: frutos do mar com preparos interessantes, acompanhamentos inusitados e montagens insólitas.

Um local simples, sem decoração, onde a limpeza e a atenção do pessoal era a tônica. Optamos por participar dessa experiência - filés de linguado, servidos com molho de manga e canela, acompanhado de lascas de maçã, arroz com ervas e um pirão de peixe com "tempero secreto", exclusividade do cozinheiro, segundo o garçom.

Um verdadeiro manjar dos deuses! Findo o banquete, corri para a cozinha: precisava conhecer esse cara.

Chef Atílio era uma figuraça: dezesseis anos comandando panelas, criador de um sem número de pratos para as mais diversas cozinhas, se encontrara ali, cozinhando no Restaurante Retiro dos Padres. Com ingredientes frescos à disposição. Atílio esbanjava talento, bom humor e felicidade. Isso trabalhando das sete à meia noite, seis dias por semana. Afinal, concluiu, um dia tem que ser da família! Lembrou-me do mantra de um professor de Química da minha juventude: se você não quiser trabalhar, faça o que você gosta. Você nunca mais vai trabalhar na vida! Chef Atílio não trabalha mais, faz tempo, das sete à meia noite!

domingo, 4 de março de 2018

Morada da Adriana...

Saindo de Porto Alegre rumo a Florianópolis com tempo (como nunca) e sem dinheiro (como sempre), uma ideia interessante era um passeio por Torres, com direito a caminhada à beira mar no fim da tarde e um jantarzinho amigo com direito à uma lua cheia espelhada no oceano de tirar o fôlego. Mas, dormir onde? Hotéis lotados, ou preços estratosféricos para acomodações espartanas. Quase decididos a seguir viagem, brilhou no booking.com a última vaga em uma pousada, a quase 8km do centro, de nome sugestivo: Morada das Bromélias.

Resolvemos apostar, mais por falta de opção do que por interesse, embora as fotos do site fossem comportadas. Depois de um trecho de asfalto e um bom pedaço em estrada estreita de chão, beirando o Rio Mampituba, chegamos. Fomos recebidos por José Paulo, o Zé, um gurizão boa praça, filho de Sérgio e Adriana, proprietários da pousada de apenas seis apartamentos e uma plantação de verduras no local. 
Adriana, Zé e Sérgio
Conhecê-los foi bárbaro: cuidando de tudo quase sem funcionários, Zé narrou como tornaram a própria casa em pousada, para não perder tudo com a crise. Aí entra a mão mágica de Adriana: ela transforma pedaços de madeira, móveis velhos, objetos antigos, louças idem e as mais diversas tralhas em uma decoração ao mesmo tempo saudosista e contemporânea. Não há um canto da propriedade que não tenha seu toque pessoal, um verdadeiro surto criativo ilimitado. Mas, ao contrário do que possa se pensar, não existe um ambiente caótico ou desorganizado. 





As peças convivem em inesperada harmonia, independente de forma, cor ou funcionalidade. O resultado: o cenário, complementado pelo carinho e a atenção de todos transforma uma singela estadia de uma noite em uma experiência única. Um apartamento limpo, um bom banho e uma boa cama (com direito ao luxo de um colchão massageador!), nos deram uma noite perfeita. Pela manhã, um café recheado de guloseimas, degustado na área coberta e aberta da pousada, de frente para uma paisagem relaxante nos causou uma angústia: infelizmente, ir embora era necessário. 
Adriana, a gente vai voltar, com mais tempo!