Faz algum tempo que eu tangenciava um encontro inadiável: voltar ao Beira Rio. Não havia conseguido reunir tempo e coragem para este encontro. Olhando por fora, nas várias vezes que por ali passei, deslumbrava-me com sua beleza, tal qual um pai, que vê crescer sua filha, transformada em mulher. Mas sempre chega o momento: quis o destino que nosso encontro não fosse no algariado cenário do jogo decisivo, onde o que menos importa é onde estamos, e sim o que vai acontecer. Entrei num estádio vazio, limpo, tão quieto que podia ouvir meu descompassado coração. E como batia! Estava em êxtase com tudo que via e ouvia do nosso guia: os detalhes da construção, o uso dos espaços, a rotina dos jogadores e dirigentes na nova casa. Pude conhecer vestiários, sala de imprensa, arquibancadas, acessos, até adentrar à área do gramado. Parei, olhei para trás e ali estava, em toda a sua grandiosidade, o Beira Rio. Então, é assim que os jogadores o vêem, é por aqui que correm em direção aos braços da torcida.
De repente surgiu o aperto no coração: tiraram o "boné", onde estava escrito "A Maior Torcida do Rio Grande". Um pedaço de céu enorme também havia sumido, dando lugar a uma asséptica e irretocável cobertura branca. Painéis enormes flutuavam atrás das duas goleiras: cadê o placar eletrônico? Por que a coréia não voltou? O Beira Rio está lindo, mas... cadê o Gigante? Onde está o colosso de concreto que fez tremer de medo o menino de chinelos de dedo que subiu sua rampa numa tarde ensolarada de abril de 1969? O Gigante que rugia com todos os seus dentes, causando calafrios nos adversários? Não existe mais. Hoje, entrei numa obra de arte, tecnológica, leve e linda. Olhei para o velho distintivo, estampado na minha camisa retrô e engoli em seco: o Gigante morreu...
Baixei a cabeça, respirei fundo para espantar o choro e fui saindo de mansinho. Lá fora, olhei para trás e suspirei: mas é lindo, mesmo! O Gigante que me perdoe, mas o Beira Rio tá demais!
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